Universidade de Évora | Semanário Registo

A olivicultura é uma cultura tradicional milenar na bacia mediterrânica e uma das atividades agrícolas mais significativas em Portugal, do ponto de vista financeiro, social e ecológico. Práticas de cultivo intensivas, combinadas com o clima mediterrâneo, têm sido questionadas sobre a gestão do solo, a erosão, a desertificação e a degradação dos recursos hídricos. Também práticas de gestão sustentável têm vindo a ser aplicadas, estudadas e comparadas em termos dos seus resultados. Material orgânico reciclado nos olivais tem demonstrado ser fonte valiosa de carbono, azoto, fósforo e potássio. Contudo, embora a reciclagem de materiais orgânicos disponíveis possa contribuir para aumentar o armazenamento de carbono no solo e fornecer nutrientes minerais, na maioria dos casos, não são suficientes para substituir os fertilizantes convencionais. Teores de carbono elevados no resíduo de poda podem ser atenuados com a adoção de um maneio sustentável do olival e poda modificada, resultante de uma relação bem equilibrada entre crescimento vegetativo e frutificação. Flutuações importantes nos rendimentos em azeitona podem ser gradualmente estabilizados pela aplicação de uma gestão sustentável da cultura. A redução do consumo de fatores de produção, reduz a pegada de carbono-ambiental e aumenta a resiliência do agroecossistema. Todos estes resultados científicos podem ser integrados na política agrícola e ambiental dos países mediterrânicos para a realização de uma economia circular.
Na região mediterrânica, a oliveira é considerada uma das espécies mais adequadas e adaptadas ao clima, se a gestão do olival assentar nos seguintes dois pilares essenciais, um de melhoria da fertilidade do solo através do aumento da matéria orgânica e outro, de ajuste da poda, crescimento das árvores e carga de frutos, com a gestão da água disponível e nutrientes e com o clima, em cada área e ano.
Desafios futuros relacionados às alterações climáticas ameaçam a cultura do olival e os produtores de azeitona e azeite na Bacia do Mediterrâneo, uma zona sensível face às projeções e tendências de aquecimento e secagem, considerada um “ponto quente” de mudanças climáticas. Em consequência, estratégias de adaptação de curto e longo prazo a essas mudanças climáticas e a esse futuro mais quente, seco e árido devem ser planeadas oportunamente pelos responsáveis pela tomada de decisão e por outras partes interessadas do setor.
Ter informação objetiva que possam ser usada no maneio do olival adequado à adaptação/mitigação dos impactos das mudanças climáticas sobre o ecossistema é fundamental. Para tal, ter projeções climáticas viáveis, suportadas em conhecimento ambiental e socioeconómico sólido, será de grande valia. Tal poderá apoiar diferentes estratégias de adaptação, na medida em que uma única estratégia pode não ser suficiente para neutralizar os impactos negativos das mudanças climáticas. Também a combinação do uso de cultivares com florescimento precoce e menor necessidade de rega, pode ser outra estratégia. A gestão sustentável do olival e da produção de azeite, é outra das estratégias, que o PSAA (Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo), persegue com o propósito de melhoria do desempenho ambiental, social e económico na região Alentejo e a criação e promoção do conhecimento.
Na realidade, para lidar eficazmente com as mudanças climáticas projetadas, uma das principais estratégias, no curto ou no longo prazo, é a de criar e disseminar conhecimento, dando mais atenção e ampliando o espectro da investigação aplicada. Por um lado, o potencial de adaptação das diferentes estratégias para lidar com os impactos das mudanças climáticas necessita ser clarificado através de conhecimento científico. Por outro, escasseia conhecimento sobre a forma como as alterações climáticas podem ser benéficas para o setor agrícola. Finalmente, porque importa conhecer como os novos modelos de negócio circulares podem ser configurados no setor olivícola. Para tudo isso o conhecimento e a sua transmissão é fundamental!
Novembro 30, 2022