Ambientais
Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), no âmbito do projeto “REMDA-Olival”, em 2014, afirma que a oliveira é uma cultura tipicamente mediterrânica, com uma boa adaptação à seca. De acordo com um artigo sobre Irrigação e Drenagem, publicado pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 1979, o olival tem necessidades hídricas comparativamente baixas relativamente a outras culturas. De acordo com dados da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), o olival regado necessita de 3.000 metros cúbicos de água por hectare, valor substancialmente baixo quando comparado com outras culturas regadas.
Para além disso, a gestão dos recursos hídricos, nos olivais da região do Alentejo, é feita através de sistemas gota-a-gota, recorrendo a tecnologias como dispositivos de controlo de humidade do solo, que são os mais adequados à forma como esta cultura se apresenta no terreno, permitindo uma maior poupança e eficiência no uso de recursos hídricos.
Um conjunto de inspeções realizadas pelo Centro Operativo e Tecnológico de Culturas Regadas (COTR), em 153 olivais da região do Alentejo, atribuíram a estas explorações uma classificação média de 91 em 100, ao nível da eficiência do uso de recursos hídricos (Coeficiente de Uniformidade).
O revestimento da entrelinha no olival moderno, com coberturas vegetais, como vegetação espontânea, semeada ou manta morta, é uma técnica praticamente generalizada.
De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), no âmbito do projeto “REMDA-Olival”, em 2014, a manutenção de uma cobertura vegetal viva nas entrelinhas é o sistema de gestão do solo mais eficaz para a resolução de problemas da erosão, para a melhoria da estrutura do solo, para reduzir a infiltração da água e para promover a biodiversidade.
Fonte: INIAV, 2014
De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), no âmbito do projeto “REMDA-Olival”, em 2014, no olival é pequeno o número de pragas ou doenças, que, com caracter mais ou menos permanente, causem prejuízos. Desta forma, o olival moderno, para além de seguir princípios de proteção ou de produção integrada, é uma cultura pouco exigente na aplicação de fitofármacos, representando apenas, de acordo com dados da Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas (ANIPLA), de 2019, cerca de 8% do mercado de fitofármacos nacionais.
Segundo o estudo do INAV anteriormente referido, a utilização de medidas indiretas por parte dos olivicultores da região, como a cobertura do solo com vegetação espontânea, é também um fator de extrema importância para limitar e controlar os inimigos da cultura de forma natural, atraindo fauna auxiliar, diminuindo ainda mais a necessidade de aplicação de outros produtos químicos.
A aplicação de fertilizantes no olival é feita através da rega, de forma localizada, garantido elevados níveis de eficiência.
Um relatório conduzido em 2015 pela European Food Safety Authority (EFSA), recolheu amostras de vários produtos alimentares, transformados e não transformados, e concluiu que o azeite é dos alimentos com uma menor presença de resíduos de pesticidas.
De acordo com o Manual de Fertilização das Culturas do Laboratório Químico Agrícola Rebelo da Silva (2006), o olival é uma cultura com baixas necessidades de fertilizações para atingir boas produtividades, representando apenas cerca de 2% das necessidades totais de azoto e de 1% das necessidades de totais de fósforo na agricultura nacional.
Fonte: INIAV, 2014; EDIA et al., 2020; ANIPLA, 2019; EFSA, 2015; LQARS, 2006
O estudo de 2016, “Assessment of carbon sequestration and the carbon footprint in olive groves in Southern Spain”, concluiu que o carbono armazenado numa plantação tradicional de oliveiras, variedade Picual, com uma densidade de plantação de 80 a 100 árvores por hectare com 60 anos de idade, ultrapassa as 15 toneladas por hectare de carbono armazenado em biomassa. A mesma quantidade de sequestro pode ser alcançada em plantações dispostas em copa com uma densidade de plantação de 200 árvores por hectare aos 18 anos de idade. Na disposição em sebe a variedade Arberquina, aos 6 anos pode armazenar cerca de 7 a 8 toneladas de carbono por hectare.
Para além disso, vários estudos demonstram, que a gestão do solo nos olivais, tal como a não mobilização, a utilização de coberturas vegetais e a incorporação de resíduos de poda, demonstram que são práticas eficazes no aumento da capacidade do solo para armazenar carbono.
De acordo com um estudo realizado pela CONSULAI e pela Juan Villar, o sequestro de carbono anual dos olivais instalados no EFMA, considerando as diferentes modalidades, pode chegar às 0,54 milhões de toneladas de CO2 anualmente. Este valor é equivalente à emissão de carbono de mais de 82.000 portugueses, muito próximo da população de Beja e Évora combinadas.
Fonte: López-Bellido et al., 2016; Castro et al., 2008; Nieto et al., 2010/2012; Repullo et al., 2012; CONSULAI et al., 2019
De acordo com um estudo realizado no âmbito do projeto Alentejo Circular, em 2017, os principais subprodutos resultantes da fileira do azeite são: lenhas de podas ou folhas, o bagaço e o caroço. Todos estes subprodutos têm a possibilidade de ser novamente incorporados na cadeia de valor: as lenhas de podas e as folhas são por vezes utilizadas para valorização energética, para enriquecimento dos solos em matéria orgânica ou para alimento de ruminantes; o caroço de azeitona está a ser valorizado energeticamente por grande parte dos produtores de azeite no Alentejo através da sua queima para produção de energia térmica, geralmente para aquecimento de águas e o bagaço de azeitona é na sua generalidade encaminhado para destilação em destilarias externas onde é extraído óleo de bagaço de azeitona e bagaço seco que é valorizado como biomassa para produção de energia.
Alguns projetos de Investigação e Inovação têm testado novas formas de valorização do bagaço de azeitona. Destaca-se o projeto LIFE Olea Regenera, que testou a utilização do bagaço de azeitona como fertilizante orgânico numa exploração de olival, conseguindo resultados como: aumento da produtividade e redução da acidez e aumento do valor nutricional do fruto.
Fonte: Cruz, et al., 2017; LIFE Olea Regenera, 2022
Económicos
Segundo o trabalho da AGRO.GES de 2022, o investimento em olivais modernos realizado nas últimas décadas, permitiu aumentar a produtividade de 263€ por hectare (1989) para 972€ em 2019.
Segundo a Eurostat, a produção de azeitona e de azeite mais que triplicou entre 2014 e 2022 em Portugal, representando atualmente um valor superior a 400 milhões de euros, um peso de mais de 5% na produção agrícola nacional.
Fonte: EUROSTAT, 2022; AGRO.GES, 2022
Segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), a expansão do olival na região do Alentejo levou a que Portugal em 2019 se tornasse no 6º maior produtor de azeite no mundo, sendo responsável por mais de 4% da produção mundial.
Dados da mesma fonte, mostram que em 2019 Portugal se tornou no 3º maior exportador de azeite do mundo, no valor de mais de 600 milhões de dólares em exportações.
Fonte: FAOSTAT, 2019
De acordo com os dados do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020), os projetos aprovados no setor da olivicultura e do azeite, no âmbito deste quadro comunitário, representam cerca de 675 milhões de euros repartidos por 4 000 projetos, responsáveis por 64,39% do total do investimento apresentado no Alentejo.
O olival da região de Alqueva, tem demonstrado também um enorme potencial na atração de investimento estrangeiro, tendo captado financiamento de agentes de mais de 10 nacionalidades diferentes no ano de 2016, de acordo com a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA).
Fonte: PDR2020, 2019; EDIA, 2019
O crescimento da fileira do azeite na região resultou num efeito de arrasto em toda a economia local, tendo-se verificado um crescimento de mais de 30% do volume de negócios das empresas alentejanas entre 2009 e 2019, de acordo com dados do PORDATA para o ano de 2019.
A expansão do olival na região, levou a que o número de empresas do setor agrícola tenha aumentado 66%, entre 2006 e 2020, segundo dados do Banco de Portugal para o ano de 2019. O desenvolvimento do setor do azeite no Alentejo expande como consequência direta os setores dos quais depende, nomeadamente setores como o dos fatores de produção, da maquinaria agrícola e industrial, das infraestruturas de rega, da comercialização, da logística, das embalagens, do setor de serviços, de I&D em novas tecnologias e investigação, de desenvolvimento de programas informáticos, de telecomunicações e de robótica.
Fonte: PORDATA, 2019; Banco de Portugal, 2019
Segundo os relatórios da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) de 2020 e 2022, entre 2018 e 2020 a despesa em atividades de investigação e desenvolvimento na região do Alentejo cresceu 26%. Desta despesa, 60% foi alocada a investigação em engenharia, tecnologia, agricultura e veterinária.
Sociais
De acordo com um estudo realizado pela AGRO.GES, em 2019 as explorações especializadas em olivicultura da região do Alentejo, geravam 7.406 unidades de trabalho por ano, representando 41% do volume de trabalho homólogo gerado a nível nacional. O mesmo estudo afirma ainda que 82% do volume de trabalho gerado por estas explorações encontra-se fixado na região onde a exploração se localiza.
O estudo realizado pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), pela Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), pela Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAP Alentejo) e pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), menciona ainda o volume de trabalho indireto gerado pela atividade olivícola, como fornecedores, prestadores de serviço, assessorias técnicas ou associado à transformação. O estudo estima que, por 100 hectares de olival são gerados 16 postos de trabalho direta ou indiretamente afetos à atividade.
Fonte: EDIA, et al., 2020; AGRO.GES, 2022
O crescimento do setor olivícola registado nos últimos anos no Alentejo, desenvolveu um novo paradigma social e económico na região.
Segundo dados do Banco de Portugal, o número de pessoas empregadas no setor agrícola na região do Alentejo aumentou cerca de 78% entre 2006 e 2020.
A atração e fixação de recursos humanos afetos à olivicultura gera também um conjunto de efeitos indiretos, sociais e económicos.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística ocorreu um acréscimo de cerca de 250 alunos inscritos no ensino secundário no distrito de Beja, entre os anos letivos de 2006/2007 e 2020/2021.
Segundo dados do PORDATA, também se tem verificado um decréscimo constante do número de desempregados inscritos nos centros do Instituto do Emprego e Formação Profissional da região, entre 2001 e 2021, registando um acréscimo de 12% de população empregada.
A mesma fonte permite ainda concluir que o Índice de Poder de Compra na região do Alentejo aumentou três pontos entre 2011 e 2019, comparativamente a Portugal Continental que não registou nenhum aumento no mesmo período.
Fonte: Banco de Portugal, 2019; PORDATA, 2019; INE, 2019; CONSULAI et al., 2019; AGRO.GES, 2022
De acordo com um estudo realizado pela AGRO.GES, em 2019 o volume de trabalho gerado nas explorações agrícolas especializadas em olivicultura foi acompanhado, ao longo das últimas décadas, de um aumento muito significativo do valor de produção, que passou de 3.522€ por unidade de trabalho, em 2009, para 9.499€ em 2019. Estes dados demonstram que a atividade olivícola se encontra cada vez mais profissionalizada exigindo uma maior qualificação da mão de obra.
De acordo com o PORDATA, verificou-se um acréscimo de 606 alunos matriculados no ensino superior na área da Agricultura no Alentejo, entre 2009 e 2021. O Instituto Politécnico de Beja inaugurou uma Pós- Graduação em Gestão Sustentável do Setor Olivícola, desenhada para responder aos novos desafios e oportunidades do setor económico regional.
Em 2022, o IEFP de Évora em colaboração com um conjunto de entidades reconhecidas pelo setor, lançou a formação Operador Agrícola Especializado especializada em duas culturas: vinha e olival. Uma formação teórica, complementada por uma forte componente prática no terreno, que visa qualificar a mão de obra agrícola da região.
Fonte: PORDATA, 2019; AGRO.GES, 2022; IPBeja, 2023; IEFP, 2022
Segundo o Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020), existe um forte peso dos Jovens Agricultores que apostam no setor olivícola para os seus projetos de Primeira Instalação, tendo submetido cerca de 1 500 projetos no decorrer deste quadro comunitário. No total, as áreas de olival, cujo investimento tenha sido apoiado pelo PDR2020, é de 38.433 hectares, sendo 26% correspondente a área de projetos promovidos por Jovens Agricultores.
Fonte: PDR2020, 2019
Culturais
Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), no âmbito do projeto “REMDA-Olival”, em 2014, afirma que a oliveira e o azeite estão profundamente ligados à cultura mediterrânica, desde a religião e arte até à agricultura ao espaço rural e à alimentação.
Portugal, apesar de ser banhado pelo Oceano Atlântico, faz parte desta cultura mediterrânica, destacando as palavras do escritor Pequito Rebelo, na obra A Terra Portuguesa, de 1929, “Portugal é mediterrânico por natureza e atlântico por posição”. E este espaço mediterrânico é marcado por uma cultura agrícola, que bem o caracteriza, na qual a oliveira ocupa um espaço de destaque, como indica a famosa frase, o Mediterrâneo estende-se até onde chegam as oliveiras”.
De acordo com dados do Concelho Olivícola Internacional (COI), o património olivícola mundial concentra-se na bacia do Mediterrâneo, onde Portugal está inserido. A oliveira faz assim não só parte da paisagem, mas também da identidade portuguesa.
De acordo com o Engenheiro Vitor Barros, no documento de candidatura portuguesa da Dieta Mediterrânica a Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, Portugal, “não estando em contacto direto com o Mar Mediterrâneo (…) produz todos os ingredientes da chamada Dieta Mediterrânica e, portanto, para o efeito, pode ser considerado como país de tradições alimentares mediterrânicas, possuindo afinidades intrínsecas com a cultura e sabores das regiões da bacia do mediterrâneo. No contexto da agricultura, e sobretudo devido à influência das ocupações romana e árabe, Portugal desenvolveu o cultivo da vinha, da oliveira, das árvores de fruto e dos cereais. Cada português consome em média entre 6 a 7kg de azeite por ano”.
Fonte: Barros, 2014
O projeto de Alqueva tem sido a maior operação de arqueologia preventiva e de salvaguarda alguma vez realizada em Portugal e das mais importantes a nível europeu e mesmo mundial, onde foram feitas mais de 1.700 intervenções arqueológicas, segundo dados da Direção Regional de Cultura do Alentejo e da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), revelados durante a exposição “Sob a Terra e as Águas — 20 anos de arqueologia entre o Guadiana e o Sado”, inaugurada a 18 de Maio de 2016, em Beja. Nas áreas de implementação dos blocos de rega do Alqueva, todas as obras foram acompanhadas por arqueólogos e centenas de sítios foram intervencionados. Hoje em dia, todos os projetos de olival, e de outras culturas permanentes, são antecedidos de levantamentos arqueológicos, pagos pelos próprios promotores, que, para além de servir de apoio à decisão do desenho de plantação, são entregues às autoridades competentes permitindo uma atualização detalhada do património arqueológico.
Fonte: Público, 2016